Ele me esperou na estação como quem não espera nada... Era um dia como esse, o sol insistia em derreter todo resto de mim, e enquanto minhas pernas caminhavam em direção à saída do trem, meu coração palpitava num solene ritmo... Estava chegando a hora.
Era hora de consumar minha então partida, hora de chegar... Pisei nas escadas, ajeitei os óculos e sequei a gota de suor que parecia se formar na testa. Enfim, cheguei.
Seus olhos, naquele momento, fizeram noite, e o brilho deles se comparava com o de mil estrelas... Aquela íris cor de mel era minha pequena galáxia.
Como descrever, com palavras terrenas, o que eu era capaz de sentir quando minhas saudades passavam por tamanha metamorfose ? Agora aquilo tudo era desejo, era desespero... era uma vontade avassaladora de tê-lo pra mim. E não era preciso tocá-lo para saber que o tinha... Apenas tinha - e que esse ''apenas'' não signifique pouco, e sim a plenitude de simplesmente ter.
E existe algo mais humano do que ter ? Ter amor, ter fé, ter alguém ? Ter doença, ter medo, ter dor ? Eu o tinha... Tê-lo me fazia mais humana, fazia-me experimentar as mais profundas e intensas sensações.
Sensação de amar belos cabelos desgrenhados, dentes separados e uma farda que se propunha a me esperar todos os sábados de manhã; e aquele não era uma amor de brincadeira, era um amor que não era o último, ou o primeiro, mas que soava como único. Era um amor de labor, de dedicação, e constante manutenção; não era um selvagem amor juvenil... nós nos amávamos pra valer.
Tive o prazer de um amor sem nome, sem rótulos, sem roupa. Tive o prazer de um amor com pressa, de um amor com fome, de um amor com laços... Mas nada se compara ao dia em que eu tive, sem complemento, um amor.
Porque ele me esperou na estação como quem não espera nada... E tivemos, então, tudo...
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