Ele me olhava como quem vão queria estar ali e seus olhos simultaneamente percorriam cada centímetro do cômodo. ''Você está feliz?'' Ele finalmente indagou, mal sabia que eu também me perguntava aquilo naquele momento. Suas mãos elevaram o café até a boca, ele se inquietou na cadeira. Eu não tinha a resposta.
A manhã estava leve, parecia suspensa no ar, aparentemente, toda a tensão do mundo se concentrava naquele café-da-manhã pós pedido de casamento.
Eu o conheci numa noite clara, no verão dos meus vinte e três anos. Ele tinha belos olhos castanhos, sempre inclinava a cabeça pra trás durante uma boa gargalhada, e eu finalmente me apaixonei.
Aquele homem se levantou, tirou seu prato da mesa como sempre fazia e eu ainda não havia dito palavra alguma. ''Se lembra de quando compramos esse quadro ?'', e sim... Eu me lembrava. ''Você o quis muito, Mel, eu nunca entendi porquê''. Ele então deixou de olhar a moldura na parede, checou o relógio, me beijou a testa e saiu.
Era só um quadro com tons de laranja, eu apenas o quis, sem motivos, do jeito mais genuíno que se pode querer. Eu o quis sem hesitar... E então novamente comecei a pensar sobre meu querer, sobre felicidades e sobre todos os dilemas daquele momento.
Depois de três anos vivendo com alguém... Eu tive medo, queria me casar, mas a verdade é que eu nunca me imaginei assim, e todos os dias me encontrava em conflito entre o que me tornei e quem eu quis ser.
E então eu percebi que o escolheria ainda que ele não fosse uma opção, eu o escolheria em qualquer hipótese ou circunstância, eu escolheria porque eu o quis por mil e um motivos.
Quando finalmente tive minha resposta, tentei ligar e gritar o mais sonoro ''sim'' para todas as perguntas daquela manhã. Mas ele não atendeu como não atendeu nenhuma das ligações daquele dia.
Foi apenas quando a noite caiu, que obtive então minha resposta... que agora entre minha casa e a sua existe uma ponte de estrelas...