Acho que naquela noite, se não me encontrasse cheia de
trabalhos para fazer, dormiria tão cedo que conseguiria acordar no meu horário
habitual sem reclamar sobre o despertador, mas a verdade é que os dias andavam
corridos e ocupados, e eu precisava terminar aquele maldito livro em menos de
uma semana, eu não sabia como conseguiria, mas precisava, de fato, conseguir tal
proeza.
Uma chuva bem fina caía pela janela, e havia roupa no varal, eu não tiraria, estava ocupada demais focada no fogão que naquele momento quase queimava o arroz, culpa do fogão, não minha.
Eu ainda não acreditava que estava ali, haviam se passado dois anos desde que você falecera e eu continuara de pé, a semana fora tão corrida que eu mal consegui me lembrar que dia era.
Quando se foi, prometi que não me permitiria chorar, mas eu disse que sempre me permitiria lembrar, mas não me lembrei, depois de dois anos, por algum motivo, eu não me lembrei, e não lamentei.
Você fora alguém com quem fiz planos pra vida. Fugimos juntos e hoje sabe-se lá onde está minha mãe, meus irmãos e minha melhor amiga, fugimos para o mais longe que podíamos e construímos o que achávamos que seria para a eternidade, e fizemos isso juntos.
Criamos um mundo para nós dois, e admito...admito que talvez éramos jovens demais, que talvez brigássemos demais, que muitas vezes nos faltou comida, nos faltou dinheiro, mas também devo confessar que jamais – repito, jamais- nos faltou amor, amor era o que esbanjávamos em cada olhar, ainda que perdido.
Mas devo dizer que fora ingenuidade nossa achar que tudo seria perfeito, foi tudo muito real, muito vivo, e como tudo que faz parte da realidade, houveram defeitos, houveram pecados, muitas vezes houve pouco de mim, outras vezes houve pouco de você, talvez deveríamos ter nos dedicado mais, brigado menos e agido como os adultos (que a partir do momento de decidimos fugir, assumimos, ainda que implicitamente, que seríamos).
Só que esperar atitudes adultas e maduras de duas crianças que acabavam de completar dezoito anos, era quase uma piada. Eu mal sabia cozinhar – ainda não sei, pra ser sincera – e você mal sabia trocar uma lâmpada, gritávamos feito crianças e nos batíamos feito dois irmãos, mas no fim das contas, quando deitávamos na cama, você me amava feito um homem, feito marido, que bom... apesar dos pesares, você era.
Mas éramos tão jovens, tínhamos tanto a aprender sobre a vida, sobre trabalho, sobre lutas e sobre dor... dor... pressuponho que você não teve tempo de aprender sobre a dor, e eu... bom... depois que você se foi... aprendi muito sobre ela.
Depois de um tempo, parei de me lembrar de você com remorso, parei de pensar nas coisas que poderíamos ter feito.
Fomos felizes, ainda que briguentos, ainda que quebrados, cumprimos a promessa que fizemos, realmente não nos faltou amor, isso não, em momento algum.
E no fim das contas, acho não me lembrei de você naquele dia, porque depois de um tempo, eu não precisava mais de datas pra me lembrar de você, eu tinha algo seu que era meu, algo que foi nosso.
Eu olhei aquela pequena garotinha correr pelo jardim, me dar um abraço e com o seu sorriso me dizer: ‘’Estava com muitas saudades, mamãe!’’
Uma chuva bem fina caía pela janela, e havia roupa no varal, eu não tiraria, estava ocupada demais focada no fogão que naquele momento quase queimava o arroz, culpa do fogão, não minha.
Eu ainda não acreditava que estava ali, haviam se passado dois anos desde que você falecera e eu continuara de pé, a semana fora tão corrida que eu mal consegui me lembrar que dia era.
Quando se foi, prometi que não me permitiria chorar, mas eu disse que sempre me permitiria lembrar, mas não me lembrei, depois de dois anos, por algum motivo, eu não me lembrei, e não lamentei.
Você fora alguém com quem fiz planos pra vida. Fugimos juntos e hoje sabe-se lá onde está minha mãe, meus irmãos e minha melhor amiga, fugimos para o mais longe que podíamos e construímos o que achávamos que seria para a eternidade, e fizemos isso juntos.
Criamos um mundo para nós dois, e admito...admito que talvez éramos jovens demais, que talvez brigássemos demais, que muitas vezes nos faltou comida, nos faltou dinheiro, mas também devo confessar que jamais – repito, jamais- nos faltou amor, amor era o que esbanjávamos em cada olhar, ainda que perdido.
Mas devo dizer que fora ingenuidade nossa achar que tudo seria perfeito, foi tudo muito real, muito vivo, e como tudo que faz parte da realidade, houveram defeitos, houveram pecados, muitas vezes houve pouco de mim, outras vezes houve pouco de você, talvez deveríamos ter nos dedicado mais, brigado menos e agido como os adultos (que a partir do momento de decidimos fugir, assumimos, ainda que implicitamente, que seríamos).
Só que esperar atitudes adultas e maduras de duas crianças que acabavam de completar dezoito anos, era quase uma piada. Eu mal sabia cozinhar – ainda não sei, pra ser sincera – e você mal sabia trocar uma lâmpada, gritávamos feito crianças e nos batíamos feito dois irmãos, mas no fim das contas, quando deitávamos na cama, você me amava feito um homem, feito marido, que bom... apesar dos pesares, você era.
Mas éramos tão jovens, tínhamos tanto a aprender sobre a vida, sobre trabalho, sobre lutas e sobre dor... dor... pressuponho que você não teve tempo de aprender sobre a dor, e eu... bom... depois que você se foi... aprendi muito sobre ela.
Depois de um tempo, parei de me lembrar de você com remorso, parei de pensar nas coisas que poderíamos ter feito.
Fomos felizes, ainda que briguentos, ainda que quebrados, cumprimos a promessa que fizemos, realmente não nos faltou amor, isso não, em momento algum.
E no fim das contas, acho não me lembrei de você naquele dia, porque depois de um tempo, eu não precisava mais de datas pra me lembrar de você, eu tinha algo seu que era meu, algo que foi nosso.
Eu olhei aquela pequena garotinha correr pelo jardim, me dar um abraço e com o seu sorriso me dizer: ‘’Estava com muitas saudades, mamãe!’’